Comida É Afeto | Quem tem medo de Greta Thunberg?!
 

Quem tem medo de Greta Thunberg?!

Quem tem medo de Greta Thunberg?!

Março é o mês que se celebra a luta das mulheres e é também o mês do consumidor. É no mínimo curioso essas duas datas estarem a distância de alguns poucos dias uma da outra, diante de uma sociedade de consumo onde mulheres são responsáveis pela maioria das decisões de compra de uma família, enquanto são também, maioria na sociedade brasileira, apesar de tratadas como minoria. Tudo isso acontecendo diante de um sistema em colapso e uma natureza que pede clemência. Acho que muitas ainda não se deram conta do que isso representa, mas o cenário em relação a hábitos de consumo, já dá sinais de mudanças acontecendo.

Numa sociedade de consumo, o consumidor é o protagonista, e, neste caso, a consumidora. Mas se não somos conscientes de onde estamos e como consumimos, somos apenas marionetes emotivas, guiadas por um marketing de guerrilha, entrincheirado em algoritmos, cada dia mais sagazes e atentos aos nossos clicks, conversas, pesquisas e até pra onde olhamos numa tela, enquanto nossos hormônios e emoções flutuam com o girar do ciclo e o mudar da lua.

Você toma um fora no inbox, e tem propaganda de sorvete no feed. Você comenta na foto da viagem da amiga, e aparecem promoções de passagens. Parece mágica! Tudo fluindo para nos influenciar a gastar o dinheiro que ganhamos, vendendo nosso tempo de vida, para comprarmos qualquer coisa que poderíamos viver sem (na maioria das vezes). No fundo, o consumo quer nossas vidas em troca de qualquer coisa que possa ser parcelada, para que possamos nos esquecer o que de fato, está em jogo. E o que está em jogo é o futuro.

Há alguns meses me deparei com o vídeo na COP24. Uma menina de 16 anos, autista, que iniciou sozinha uma revolução ao fazer greve de aulas, todas as sextas-feiras, em frente ao parlamento Sueco, para protestar contra as autoridades, que nada fazem para garantir o cumprimento de acordos climáticos que definirão o futuro de sua vida e geração.

Greta Thunberg/Reprodução


No dia do consumidor (15 de março de 2019), Greta liderou um protesto que multiplicou passeatas em dezenas de capitais do mundo para alertar contra a indiferença dos líderes em relação ao compromisso firmado e, é nesse ponto que tudo se encontra. Greta é menina, vegana, que só anda de bicicleta e evita andar de avião para não gerar impacto na sua pegada de carbono. Ela é uma menina que compreendeu perfeitamente o que é ser consumidora numa sociedade de consumo em colapso. Ela toma atitudes pequenas sem duvidar de seus impactos.

Muitas pessoas se sentem desconfortáveis diante das falas de Greta. Não é para menos. Ela não faz rodeios: “Nós não viemos aqui para implorar para os líderes mundiais se importarem. Vocês nos ignoraram no passado, e vocês vão nos ignorar novamente. Estamos ficando sem desculpas e estamos ficando sem tempo. Nós viemos aqui para informá-los de que a mudança está chegando, quer vocês queiram ou não”. E quem pode dizer que não é uma luta justa?!

Greta entendeu que não existe ação pequena. Existe apenas ação, e que é justamente ela que pode nos trazer alguma esperança, de um mundo possível. E isso vale para todos, autoridades ou consumidores, porque ao menos nas tragédias e catástrofes a igualdade está garantida. Alguns podem até ganhar dinheiro, mas contra as forças da natureza não existe carteirada.

O que o momento nos pede é que honremos o nosso amor aos nossos filhos e as novas gerações, e nós, mulheres, temos um papel decisivo nessas transformações. Afinal à mulher coube o papel, na sociedade patriarcal, de cuidar dos filhos e pensar no que é preciso para suprir a casa, e assim tomamos decisões de compra, que impactam toda a família, diariamente. Escolhemos o que comprar, de qual marca, e quando. Na hora que todas as mulheres perceberem esse poder, o jogo vira. E já está virando, pois a mudança já está chegando, quer você queira ou não.


Luiza Sarmento, jornalista e ativista em consumo consciente e sustentabilidade, apresentadora da Causa Justa.

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