Comida É Afeto | As escolhas do lado de cá
 

As escolhas do lado de cá

As escolhas do lado de cá

Há 8 meses, depois de morar por 15 anos no Rio de Janeiro, me mudei para a França. Vou contar um pouquinho de como funciona a relação de consumo alimentar por aqui.

Como em todo lugar hoje em dia, as grandes redes de supermercado são os locais preferidos para as compras da grande maioria da população, pois os preços conseguem ser bem competitivos e atraentes.

A população francesa de hoje é muito diversa. Várias etnias, talvez todas, estão presentes na sociedade, como os africanos, árabes, asiáticos e latinos. Portanto, encontramos de tudo por aqui, lojas especializadas em produtos africanos, árabes, asiáticos, mexicanos e até brasileiros. Cada etnia, claro, tem seu perfil de consumo bem demarcado, mas acabam que todas entram no que seria o padrão francês.

O que acontece hoje aqui na França é um aumento enorme na oferta de produtos orgânicos em todos os lugares, de pequenas lojas de bairro até as grandes redes, e tem orgânicos de tudo, não somente hortifrutis frescos. Toda a gama de produtos que você encontra no supermercado tem aqui sua versão BIO, como é denominado o orgânico na Europa, que vai além de produtos alimentares, valendo para todas as áreas de consumo, todas mesmo, até mesmo um cotonete.

Mas o selo BIO é garantia apenas de um alimento livre de agrotóxicos e pesticidas, o que já é um avanço enorme, visto que o mundo consome uma grande quantidade de contaminantes químicos diariamente. Porém, o selo BIO não garante, por exemplo, que o produto seja local (tem muita importação), não garante equidade na relação de compra e venda com o produtor, e nem que o cultivo seja sustentável – existem monoculturas que se enquadram na categoria BIO.

A melhor opção que se pode fazer é buscar onde comprar diretamente dos produtores locais, fora dos grandes centros de consumo. Com eles, dá para encontrar hortifrutis, pães, geleias, queijos, patês. Mas a grande questão é que o pequeno produtor raramente consegue ofertar produtos minimamente processados, inclusive grãos, macarrão, óleos, molhos de tomate, biscoitos, etc. Então a falta de tempo, aliada à praticidade de encontrar tudo concentrado e um mesmo lugar, ainda que se queira comer completamente livre de venenos, nos leva às grandes redes de supermercado.

Mas qual é o problema de comprar o BIO nas grandes redes? A questão é que elas geralmente compram em toneladas e remuneram o produtor muito mal, de forma a tornar muito baixos e competitivos os valores dos produtos BIOS frente aos preços de venda dos produtores locais. É um verdadeiro lobby! Infelizmente o produtor se vê praticamente obrigado a escoar sua produção por essa via.

Em comparação à situação do sistema de orgânicos e sua oferta no Brasil, sem dúvida a França está muito à frente, mas ainda longe de ser um modelo de consumo e de ter uma produção ideal que garanta a sustentabilidade para as futuras gerações.

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