Comida É Afeto | Tem comida sobrando
 

Tem comida sobrando

Tem comida sobrando

‍Após a II Guerra Mundial (1939-1945) a fome era um enorme problema na Ásia Meridional e na África Subsaariana. Desde 1900 que pesquisadores franceses vinham inovando nas tecnologias agrícolas para aumentar a produção de alimentos, e o pós-guerra foi o cenário perfeito para começar a investir nesse tipo de produção. As novas tecnologias otimizavam a produção absurdamente. Produzia-se mais em menor espaço de tempo com a ajuda de aditivos químicos e sementes geneticamente modificadas ultraresistentes. O primeiro país a adotar esse modo de produção foi o México, e logo a Revolução Verde se espalhou sobre o globo. Passados pouco mais de 60 anos do seu início, sabemos que essa revolução foi um salto para trás, pois, não acabamos com a fome no planeta e ainda tivemos enormes impactos socioambientais negativos.

Com matéria-prima de sobra, a indústria alimentar foi longe e o consumo cresceu exponencialmente. O alimento passou a ser um bem de consumo de mercado. As idas aos supermercados, que são verdadeiros shoppings, passou a ser o passeio de fim de semana da família. E para guardar tanto alimento, precisamos de uma enorme geladeira não é mesmo? Conseguimos saber o poder de compra e a classe social de um indivíduo pela sua geladeira. E é nela que mora o perigo! Hoje ela é a porta aberta para o desperdício do consumidor final. Nunca na história da humanidade se teve tanta oferta de alimentos a alcance do homem, e nunca desperdiçamos tanto.

 

Segundo estudos da FAO, do campo até a mesa desperdiçamos entre 25 a 30% do alimento produzido no mundo. Na cadeia de produção alimentar, o desperdício se dá 5% no campo, 6% na transformação da indústria, 8% na distribuição e 9% no consumo final. E, curiosamente, mas não por acaso, 30% da população mundial não têm acesso ao mínimo da alimentação adequada para um bom desenvolvimento, e passa fome. Este é um cenário preocupante de perdas, não só de alimentos em si. Afinal quando um legume é jogado fora vai junto com ele para a lata de lixo os recursos naturais e humanos envolvidos na sua produção. Recursos estes difíceis de serem revertidos ao seu estado original, principalmente os recursos ambientais e os danos para a saúde humana recorrentes da utilização de agrotóxicos.

E, voltando para nós, consumidores finais, que representamos 9% da fatia do desperdício, e olhando para a nossa querida, amada e venerada geladeira, quantos alimentos compramos, guardamos, esquecemos lá no fundo da prateleira e depois jogamos fora? Estudos mostram que armazenar o alimento na geladeira é a principal razão do desperdício alimentar doméstico, e que nem sempre o uso da geladeira se faz necessário. Ao contrário, há alimentos que sofrem e estragam mais rapidamente com a ação do frio. Reduzir o uso da geladeira, além de acabar com o desperdício alimentar, pode trazer benefícios para a sua saúde. Passando a usar uma fruteira, por exemplo, como antigamente, o alimento estará sempre visível e ao alcance de sua mão.
O planejamento da alimentação passa a ser semanal, ao invés de mensal. Consumiremos melhor, e em menos quantidade, e o resultado disso também pode afetar positivamente o seu orçamento. Essa é uma das estratégias para diminuirmos o desperdício cotidiano, mas podemos ir além, e aproveitarmos integralmente os alimentos sem jogar fora partes nutricionalmente importantes como cascas, folhas e talos. No fim das contas, cada um pode fazer um pouquinho.

De grão em grão economizaremos muitos, e o nosso planeta agradece.

Referências :

FAO – www.fao.org/home/en/

@chefcarolsa 

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