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Cultura agroecológica e florestal: caminhos e desafios

Cultura agroecológica e florestal: caminhos e desafios

A agroecologia pode ser entendida na prática e na teoria. Diferentes arranjos criando sistemas produtivos norteados por princípios ecológicos, respeitando a vida, os ciclos naturais e o meio ambiente de forma geral. Se em tese qualquer plantio está  beneficiando a natureza, a agroecologia mostra que não. Enquanto campo de estudo e ciência, se contrapõe as inúmeras práticas de plantio que degradam o meio ambiente e esgotam os recursos naturais. Contraditório existir plantios que causem isso, né?! Sim, assim como muitas invenções e intervenções humanas.

A agroecologia busca quebrar a lógica de plantio monocultural e degradante, exportada no nosso país a mais de 500 anos, começando lá nas plantações de cana-de-açúcar para o reino Português. Em tese, a partir da criação de sistemas produtivos que respeitem e sejam norteados pelos princípios ecológicos, fortalecendo à vida em suas múltiplas formas, e formando sistemas que produzem alimentos, madeiras e outros recursos de forma sustentável sem degradar o meio ambiente e as relações sociais envolvidas nesses processos. Se o ponto de partida é a natureza, então a largada é pela diversidade. Assim também devem se organizar os sistemas produtivos agroecológicos: diversos e múltiplos. 

Mas na prática agroecológica muitos arranjos atuais não se materializam dessa forma, desconsiderando princípios ecológicos básicos. Solos cultivados descobertos, uso intenso de insumos externos mesmo que naturais evitando a criação de sistemas retroalimentares, sistemas produtivos que desconsideram uma diversidade mínima vegetal condizente com a dinâmica florestal, sistemas abortados que não consideram a sucessão e a multiestratificação vegetal, seres humanos ainda entendidos como máquinas e não como seres e animais, integrados às dinâmicas de vida e suas funções naturais. Nessa confusão teórica  manifestada na prática, vemos em muitos casos esse conceito sendo utilizado mais como um selo comercial do que um princípio ecológico de produção e relação do homem com a natureza.

Uma outra relação homem-natureza, que parte de um resgate ancestral de uma cultura mais conectada e que se fez pertencente aos processos naturais. Partindo também da proposta de um novo papel que o ser humano moderno pode exercer, se entendendo enquanto parte integrante desse sistema natural e não um ser dominante da natureza. A agrofloresta sucessional e biodiversa busca restabelecer o olhar e o papel do ser humano enquanto um animal que também possui suas funções no dispersar da vida, participando dos processos naturais de forma benéfica mesmo que tenhamos nossa pegada e consumo energético. Assim como outros animais podemos agregar mais energia do que consumir, e podemos fazer isso com nossas áreas que produzem alimentos. Sistemas produtivos diversos, que considerem o solo como organismo vivo e também o plantio ali inserido, assim como o seu caminhar no tempo e no espaço, com múltiplos animais fazendo parte dessa grande dinâmica, sendo o ser humano parte dele em cooperação com os outros e não como um ser dominante.

Mas assim como alguns arranjos agroecológicos desconsideram justamente os aspectos ecológicos, muitos arranjos agroflorestais também desconsideram uma outra relação homem-natureza, mesmo que em suas práticas de cultivo consigam estabelecer dinâmicas ecológicas benéficas. As armadilhas se repetem, tanto nos fetiches que se criam permitindo que os princípios, conceitos e a teoria se percam. Assim como, a armadilha na ausência de diálogo entre duas práticas que se complementam, quando olhadas e colocadas em ação a partir de seus princípios básicos.

A agrofloresta se manifestada de forma plena é talvez a prática produtiva mais agroecológica, pois parte inerentemente de um sistema diverso, retroalimentar, resiliente, produtivo e que considere os diferentes seres trabalhando em cooperação os processos de vida ali presentes. Ao mesmo tempo que a agroecologia em si tem sua maior possibilidade de potência produtiva com os sistemas agroflorestais, podendo unir de forma prática diversos aspectos ecológicos integrados a uma outra relação social envolvida nesses processos produtivos. Uma está conectada a outra ou pelo menos deveria. 

O ser humano desconectado, a partir de um movimento em cadeia, segue desconectando também diversos processos complementares que tem um potencial de estabelecer novas práticas de produção de fato sustentáveis e ecológicas. Nós seguimos, persistentes, integrando os conhecimentos e plantando diversidade a partir do que a natureza no ensina. O caminhar no espaço/tempo é constante e diverso, assim como o desenvolvimento florestal, e também como deve seguir nossas práticas que sejam agroflorestais e agroecológicas por natureza.

Escrito por: Tomas Deleuse Mendonça – geógrafo, educador, agroflorestor, cofundador da Carpe Projetos Socioambientais.  Insta: @tomasdeleuse e @carpe.projetos

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